Primordial para o bom funcionamento da prótese, o reservatório é indispensável para o bom funcionamento e garantia do bom desempenho sexual
A colocação do reservatório da prótese inflável contou com anos de avanço na medicina urológica. Aqui no blog, você vai entender porque essa peça, aparentemente simples, é parte primordial para o funcionamento do implante e para um bom resultado para o paciente.
O post de hoje é baseado em um artigo científico que o Dr. Paulo Egydio escreveu e publicou em conjunto com seu colega português, o médico urologista Nuno Tomada.
O Dr. Nuno Tomada é especialista em urologia e andrologia, e se dedica especialmente às cirurgias reconstrutivas genito-urinárias. Ele tem doutorado pela Faculdade de Medicina do Porto, de Portugal, com dissertação sobre disfunção erétil e é autor de vários capítulos de livros e artigos originais em revistas de impacto científico.
O artigo em questão, intitulado “Colocação do Reservatório da Prótese Peniana Inflável – Estamos prontos para uma mudança de paradigma?” , fala sobre a busca pelas melhores práticas para soluções de colocação do reservatório da prótese inflável, com o objetivo de minimizar complicações, dar mais segurança e garantir a funcionalidade do mecanismo e da prótese.
Para que você possa compreender tudo sobre o conteúdo do artigo, é essencial retornar alguns passos no que tange às próteses penianas existentes. Por isso, aqui nesse post você saberá:
- Modelos de próteses penianas
- Prótese peniana maleável
- Prótese peniana inflável
- Como a prótese inflável funciona
- Quando colocar prótese peniana
- Cirurgia de prótese peniana
- Bombinha da prótese inflável
Modelos de próteses peniana
Existem basicamente dois modelos de implantes penianos, que são os mais comumente usados pelos cirurgiões: as próteses maleáveis e as próteses infláveis. Cada uma tem suas particularidades, que você vai conhecer a seguir:
Prótese peniana maleável
A prótese maleável também é chamada de semirrígida. Ela é composta por duas hastes de prata envolvidas por silicone que garantem maleabilidade ao pênis. Dessa forma, ele pode ser acomodado dentro da cueca ou ser posicionado para a relação sexual.
Há diferentes tamanhos e espessuras de prótese maleável, que podem se adequar a diferentes necessidades identificadas pelo médico no momento da operação.
A principal característica desse tipo de implante é que ela mantém o pênis do paciente sempre alongado (esticado), sem permitir a flacidez peniana. Além disso, as próteses maleáveis são conhecidas por sua baixa necessidade de manutenção e são fornecidas gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Prótese peniana inflável
Com a prótese inflável, também chamada de prótese hidráulica ou informalmente lembrada como a prótese de bombinha, o homem tem a opção de ficar com o pênis ereto ou flácido a qualquer momento. Isso é possível justamente graças à bombinha que é parte integrante do modelo – e que você entenderá como funciona mais adiante.
O implante inflável pode ter dois ou três volumes. Ambas as opções possuem dois cilindros, sempre colocados em par, que compõem o primeiro volume. Na prótese de dois volumes, o segundo volume é o reservatório de soro fisiológico, que fica alojado no escroto. Na de três, além do reservatório, que vai na parte inferior do abdômen, é implantada a bombinha de pressurização no escroto.
O modelo de três volumes subdivide-se, ainda, em dois tipos, que têm características próprias, conforme as medidas de cada implante: o Narrow é mais curto e fino, enquanto o Standard é mais longo e calibroso. Como só é possível saber no intra-operatório qual é a melhor opção para a anatomia do paciente, é essencial que o cirurgião conte com os dois subtipos na sala de cirurgia caso a prótese de três volumes seja a mais indicada.
Como a prótese inflável funciona
O funcionamento da prótese se dá quando o paciente pressuriza o cilindro. Quando isso ocorre, o soro fisiológico deixa o reservatório e infla o sistema hidráulico, deixando o pênis ereto e com boa firmeza. No momento em que desejar, é só pressionar a válvula para que o líquido volte ao reservatório, obtendo novamente a flacidez peniana.
A possibilidade de ficar com o pênis ereto ou flácido é, inclusive, uma das principais razões pelas quais os homens preferem esse modelo de implante. Porém, é válido ressaltar que, quando retraído, o pênis provavelmente não ficará do seu tamanho original no mesmo estado, justamente devido a presença do implante, mas tende a ser mais discreto sob a roupa na comparação com uma prótese maleável.
Apesar deste benefício, para ser manipulado corretamente, o sistema pede destreza nas mãos. Homens que perderam a força nessa parte do corpo, por exemplo, não são bons candidatos ao implante. Além disso, o mecanismo hidráulico corre o risco de apresentar súbitas falhas mecânicas ou vazamentos. Embora na maioria dos casos não haja riscos para o paciente, é necessário se submeter a uma nova operação para realizar a troca da prótese.
Alguns homens se preocupam se dá para ver a bombinha na prótese inflável. Ela não fica visível, mas, como para ter a ereção é preciso pressionar o mecanismo algumas vezes, as(os) parceiras(os) mais atentas(os) podem notar algum movimento diferente antes do ato sexual começar.
Quando colocar prótese peniana
Implantar uma prótese peniana é indicado em situações em que o pênis deixou de apresentar funcionalidade, ou seja, quando ele não tem mais rigidez vertical necessária para penetrar a(o) parceira(o). Isso pode ser percebido quando, na relação sexual, há dificuldade na penetração e/ou se ela ocorre, o membro escapa com frequência.
A perda de rigidez pode ocorrer devido a condições como a Doença de Peyronie e/ou curvatura do jovem, que, por sua vez, estão muito associadas à disfunção erétil. Quando as doenças não têm solução após o uso de medicamentos, o tratamento cirúrgico costuma ser a opção indicada pelo urologista para que o homem recupere a sua qualidade de vida sexual.
Ao contrário do que alguns imaginam, a colocação de uma prótese peniana, seja ela inflável ou maleável, não tem como objetivo aumentar o tamanho ou a espessura do pênis. A própria Sociedade Brasileira de Urologia faz esse esclarecimento em seu site.
“A prótese peniana é um excelente recurso para restaurar a capacidade de sustentação peniana, quando a função erétil é perdida por algum motivo.”
O que acontece é que, quando o pênis é acometido pela Doença de Peyronie, ele perde tamanho, devido à formação de fibroses, e também perde firmeza. Para tratar os dois transtornos, em uma única cirurgia é possível recuperar as dimensões penianas (respeitando os limites dos nervos) – deixando-o maior em comparação com o membro reduzido afetado pelas fibroses – e implantar a prótese, que vai garantir a resistência vertical para o ato sexual e, ainda, prevenir que novas fibroses se formem.
Logo, é equivocado dizer que a cirurgia para Peyronie ou curvatura peniana congênita ou a colocação da prótese aumentam o tamanho do pênis.
Cirurgia de prótese peniana
Como acabamos de dizer, a colocação da prótese peniana é combinada com a cirurgia que visa recuperar tamanho e calibre do pênis, que é realizada primeiro. Esta vai corrigir as deformidades causadas pela Doença de Peyronie.
Nesta primeira etapa, a estratégia cirúrgica adotada é a Técnica Egydio* associada à manobras adjuvantes, o cirurgião busca fazer o alinhamento do pênis e reconstruir o membro, com o objetivo de recuperar o tamanho e calibre até o limite dos nervos.
No entanto, apenas a retificação não é suficiente para que o pênis adquira firmeza outra vez. Para isso, a prótese se torna fundamental. Ela é inserida na segunda etapa da cirurgia.
Independente da escolha pela prótese peniana inflável ou maleável, a haste é colocada dentro dos corpos cavernosos, respeitando o tamanho máximo suportado pelo comprimento e espessura do membro após a reconstrução feita anteriormente. Como não é possível determinar com antecedência as dimensões finais do membro, o cirurgião precisa ter à disposição uma variedade de tamanhos, considerando comprimento e calibre, para implantar a opção que melhor se adapta à anatomia daquele paciente.
Bombinha ou reservatório da prótese inflável
Entrando no tema central do mais recente artigo publicado pelo Dr. Paulo e seu colega, vamos nos deter em explicar mais sobre a colocação do reservatório via ectópica, e a fundamentação e a experiência do cirurgião em fazer essa escolha.
De forma geral, pode-se dizer que a colocação da prótese peniana inflável, considerando o implante dos cilindros e da bomba escrotal, é um procedimento bastante padronizado, mas uma questão que se altera é em relação à colocação do reservatório. Quando o cirurgião deve colocá-lo de forma tradicional – ou seja, ao lado da bexiga – ou de forma ectópica?
Para começar a responder essa pergunta e a compreender o artigo, a primeira coisa que você precisa saber é que existem alguns tipos de reservatórios, como o cilíndrico e o achatado (formato de panqueca).
Essa variação permite que o reservatório (e por consequência a prótese) seja introduzido no crescente número de pacientes que passaram pela cirurgia robótica ou prostatectomia radical laparoscópica para tratar o câncer de próstata, ou, ainda, naqueles que realizaram cirurgias de transplante renal, cistectomia radical colostomia e/ou radiação pélvica, entre outras.
O que acontece é que, nesses homens, o acesso tradicional de colocação do reservatório, que é ao lado da bexiga, fica muito prejudicado. Na busca pelas melhores práticas para casos como esses, que têm sido estudadas há anos, uma das escolhas tem sido a colocação ectópica.
No artigo, os urologistas defendem que, a partir de suas largas experiências na área e embasados por outros especialistas, instalá-lo de modo submuscular é mais seguro do que colocar por via tradicional quando estamos falando de pacientes com este perfil. Com isso, também é possível minimizar a palpabilidade da bombinha, ou seja, o paciente não vai sentir o reservatório.
No entanto, colocá-lo de forma ectópica é uma indicação de urologistas para um grupo seleto de pacientes, a fim de se ter o menor índice de complicação por acessar a cavidade abdominal que já passou por uma cirurgia anteriormente.
Se você está evoluindo para um indicação de prótese inflável e foi submetido a uma cirurgia da robótica ou laparoscópica, a escolha do local onde colocar o reservatório da prótese inflável é relevante. Converse com o seu urologista sobre as alternativas de colocação por via ectópica.
Como você pode ver, há respaldo científico para o tema abordado neste post. É muito importante que, antes de tomar decisões sobre a sua saúde sexual, você busque se informar a partir de fontes confiáveis como essa que estamos trazendo aqui.
Fonte: Tomada N, Egydio P. Inflatable penile prosthesis reservoir placement-Are we ready for a paradigm change? Rev Int Androl. 2022 Jul-Sep;20(3):163-169. doi: 10.1016/j.androl.2020.12.002. Epub 2022 Mar 22. PMID: 35337772.
Recapitulando: Existem dois modelos de prótese peniana: a prótese maleável e a prótese hidráulica (inflável), que têm como finalidade dar sustentação vertical para que o pênis possa penetrar a(o) parceira(o) na hora H.
De acordo com o artigo publicado por mim pelo Dr. Nuno Tomada, é indicado que o reservatório da prótese inflável, tradicionalmente alocado próximo à bexiga, seja colocado de forma ectópica em determinados perfis de pacientes, como aqueles que realizaram cirurgias anteriores na cavidade pélvica. Discuta com o seu médico as opções se você se encaixa nesta situação.
Se você quiser ainda mais detalhes sobre a publicação assista o vídeo a seguir, em que tento resumir, de forma simplificada, o conteúdo do artigo e a sua importância para os pacientes que receberam indicação cirúrgica de prótese peniana inflável.
